terça-feira, novembro 02, 2010

Um santo em mim

Tempo da Cabala

O amigo Luís Geraldes, artista plástico português, criado angolano, mas a viver na Austrália, fez-me a pergunta. Era uma inconsequente madrugada no «Galeto», em que eu e o meu editor íamos aos pregos com mostarda e às cervejas bem geladas. E a pergunta era: o que revela o perfeito equilíbrio entre o céu e a terra, a água e o fogo? Talvez quisesse ele que a minha resposta entrasse na Ordem do Templo, mas soltou-me ser a Paz tão-simplesmente, essa coisa que lhe leva o vento de Lisboa e que não pára em tempo da Cabala…

Do eLeitor

Não o chamaria de eReader, pois não tomo por empréstimo à língua inglesa o que esta flor do lácio também tem. Chamo-o de eLeitor, não eleitor, note-se, que vai às urnas votar, mas aquele que navega e lê os meus textos digitais. Por conseguinte, o meu eLeitor, devidamente identificado (nas antípodas do anónimo, que é apanágio desta parvónia), querendo saber o porquê de textos herméticos, senão mesmo criptográficos. Faço-o entender que estar na eterna idade de ver o luar, acto simples e singelo, nada tem de misterioso. Ver tão-somente para acreditar que a vida vale pelas coisas evidentes. O luar pelo luar, sem outro navegar…

Cidade novembrina

Novembrino mês. De ameno tempo. Outrora, novembrino de estio e de fastio. Agora, o cio da terra é das águas. E a leve brisa que bole as árvores da minha cidade? E os acordares, ainda para o sereno, que esta metrópole, a ser, concede? Os cantares de galo numa urbe com Bolsa de Valores! Tens o corpo disforme, ó Praia. Malha mais estranha. A mim entranha tua alma novembrina. Os que te esventram, por estupro e por rapina, não te saberiam no lado de cá. Olho-te do mar aos montes. Lânguida. Sensual. Liiiiiinda. Para o desgosto dos que te desamam. Apesar do lixo e do luxo, dos thugs e dos vips, liiiiiinda. Que ninguém ouse matar a tua silenciosa estética de estares assim no abraço atlântico…

Bashô um santo em mim

Releio, com calma e vagar, os versos de Maria Helena Sato, de quem sou amigo e admirador. São versos deliciosos. De quem sabe colher o melhor perfume de uma flor de três pétalas: Brasil, Cabo Verde e Japão. Gostei particularmente do livrinho «Bonsais e Haicais», em papel 100% reciclado de embalagens Tetra Pak. Às tantas, Maria Helena escreve:

Granizo
destruiu meu teto.
O sol me vê
estendida,
quase desistindo
de secar.

Fui assistir à apresentação dos livros de Maria Helena Sato, aqui na Cidade da Praia, e encantou-me esse assumir modernidade poética no imperceptível das coisas. Ricardo Silvestrim, outro poeta bem-aventurado, diria: «Bashô um santo em mim». Total…

Meu Brasil, brasileiro

Dou comigo vibrando, de contente, pela vitória de Dilma Roussef nas eleições presidenciais brasileiras. Eia, para Você que se levantou cedíssimo para ir votar, aquele abraço. Em verdade, para mudar o mundo. Estou orgulhoso de Você. E não é que o mundo mudou? O Brasil, que se afirma como quinta maior potência mundial, tem agora uma mulher na Presidência. Antes, já era um ex operário e ex sindicalista. Agora é uma mulher.