terça-feira, janeiro 04, 2011

Já que é Ano novo

Impossível paisagem

Agora, que é Ano novo, eis-me à tentação de prognóstico ou mesmo de resolução premente. Pulsa-me a vontade de olhar para os dias a virem, com crença e fé, mas não aquela que, embevecida, se dilui pela água das causas, nem aquele que, de ardente, se ajoelha diante dos altares da vida. Pulsa-me a vontade tão-somente legítima de ou para as coisas mais simples: a paz de espírito, o ser melhor que antes e o conceder-me à arte. Sem alarde, que é já tarde, para o homem de cinquenta. Claro que não é hora da paragem. Sendo certo o halo desse incenso pela sala e cristalino o espelho no quarto em que me olho, prefiro o remanso à voragem. Mil vezes a viagem silenciosa que a ruidosa permanência. A errância dos poetas que, diante dos reis e dos precipícios, nem se precipitam. A transigência dos poetas em tempo de rio. Rio-me disso tudo. Mirante que sou de uma paisagem impossível…

Sonho em retrato

Livre do seu enleio, sério do que não é, como diria Fernando Pessoa, assim me apercebi deste livro «O Retrato de Um Sonho», de Fábio Vieira, que, de pronto, se acomete a reminiscências e a buscas existenciais para o seu próprio reencontro através da escrita. O romance, enquanto «isto» literário, não tem tido tradição afortunada em Cabo Verde. Entretanto, esta nova geração de escritores, à qual pertence Fábio Vieira começa a marcar espaço neste género literário e a inscrever o romance – romance moderno, em toda a acepção – na vigorosa literatura cabo-verdiana, madura e prestigiada em se tratando da causa poética. Na construção da sua narrativa, parte o autor de um argumento que ultrapassa até a projecção do enredo. Conta-nos a história de um jovem cabo-verdiano, da ilha do Fogo que, ao final de inúmeras andanças a marinhagens, regressa sempre ao seu ponto de partida para se encontrar de forma mais pródiga, sendo a itinerância, mais que a reminiscência o fio condutor da sua narrativa.

Restaurante Avis

Reabre, na cidade da Praia, mais precisamente na glamourosa rua pedonal do Plateau, 5 de Julho, o restaurante Avis. Reabre com classe e intenção. Com ambição, cheirando a novo, sem recusar a sua áurea de um passado em que fora o melhor restaurante da capital. A sua gerência pensa adendar à restauração uma «agenda cultural». Música, como prato cultural forte. Mas também outras valências criativas que esta cidade potencia. Em conversa com o amigo Vito – Leitão da Graça -, um dos emblemáticos do Plateau, ficou-me a impressão de que é possível de restituir ao nome Avis, marca já mais que registada, a sua vocação de espaço de Cultura. Iniciativas do tipo merecem o aplauso de todos, pois transcendem o negócio e afirmam uma nova cidadania.

Agenda verde

Regozijamo-nos com o facto de um partido político incorporar a «agenda verde» no temário da formulação de novas respostas para os novos tempos. Aliás, alguns de nós temos reflectido séria e criticamente sobre a necessidade de uma «terceira força» efectiva, plasmada na causa ambiental e no desenvolvimento harmonioso. Essa «agenda verde» se assentaria em três eixos: o desempenho económico, a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental. Ao «incorporar» tal agenda, continuaremos a votar nesse partido, sem que haja necessidade de desviarmos o voto. Ressalva para dizermos que voto lúcido, consciente e crítico. Não somos eleitores de votar pelo carnaval da propaganda e do marketing. No nosso caso será um mais um voto de confiança, tendo em conta a carteira de realizações e a realidade das transformações. Mais do que isso, tendo em conta o potencial das mudanças ainda possíveis e passíveis de implementar. Isentos no descrever as coisas, mas jamais neutros em pensamento, continuaremos juntos a trabalhar o futuro.