sexta-feira, maio 21, 2010

Quanto desconjunto


Escrever sangrando

Sangra sim, mas sem dramas, coisa e tal, escrever de pulso aberto. Fazê-lo à pauta alheia era recusar os quanta, as partículas que se entrecruzam nos campos da realidade e da ficção. Os campos mesclam-se. E o gozo de escrever está nos experimentos. Os encastelados da escrita não vão gostar destes exercícios, mas está-se nas tintas e numa idade em que arrepiar os ensebados da pequeníssima burguesia (e seus lacaios, alguns com ares, aros e eros modernaços), só mima o ego de quem já criou barriga e reequilibra a sua diástole que se arma aos píncaros. O gozo de escrever coisas não lineares; as linhas que não se acabam aqui nem ali. Se calhar, até descambam, como as paralelas, para o infinito. O gozo de poder escrever à velha maneira – na mesma forma de rima e métrica -, mas escolher dar a volta ao verbo e fazê-lo ressurgir na improvável esquina. Com a semântica desconstruída. Não por desleixo de ofício. É que a própria metáfora está no círculo vicioso e viciante dos poetas de serviço. Mudar de rumo, pois. Escrever de pulso aberto. E o resto é sangue…

Topónimos de nós

Não acredito em destino. Tão pouco existem, no meu pensamento, céu e inferno. A minha crença se resume ao milho que (não) cresce. Crença estranha para quem se sente urbano. Cosmopolita. Contra o pensamento vernacular, formatado por doutores e sustentado pela elite do café, quando o pensamento tende a lúdico e emancipado. Olho em torno. Afoito a rir dos deuses locais. A lhes provocar a ira. A ira dos nossos deuses locais. Mas, cá entre nós que não desdenho das uvas por estarem verdes, acredito antes não ser possível fugir dos topónimos de nós. Na física moderna, as partículas aceitam informações excludentes, por estas também serem concomitantemente verdadeiras. Estamos contidos no nome que nos deram. Topónimos, diria…

Livro Branco das Políticas Públicas

Como qualquer em edifício, começa-se pelos alicerces. Isso de construir a casa de cima para baixo, possível hoje em certa geometria, não entra pelas nossas contas. O afrontamento do momento (acreditamos): levantar os passivos e os activos culturais de Cabo Verde. Mapeá-los. Formular, a partir dos dados obtidos, a cartografia cultural cabo-verdiana. E, estando as evidências sobre a mesa, formular então novas políticas públicas para a Cultura. O resto é ousar, campo, aliás, pródigo dos artistas e criadores. O Estado aqui fica de fora. Se dentro, como facilitador e regulador. Para o resguardo da nossa cidadania cultural…