domingo, outubro 25, 2009

PARTIDA

Aos amigos do Jornal A Nação




ESCRITA boa era a do jornalista Manuel Delgado. Punha o País em polvorosa. Metade da tripulação queria-o pela borda fora. Outra metade, onde me situava, gramava tê-lo como companheiro da navegação. Quem sabe até da vagueação. Delgado levava chamas dentro do corpo para o incêndio da 25ª hora. E o resto, sendo ninguém a claridade, ajaezava-se à andaluza; e o resto era eu, dizia, a declamar os versos de Mário Sá Carneiro…

PROTELOU-SE a ida à feira gastronómica de Santarém. O melhor da culinária crioula? Há coisas giríssimas. De fazer pecar qualquer cristão. Dos carapaus fritos e arroz de feijão, não falarei. Sou suspeito. A canja de galinha, a mão de vaca e a sopa de Rolão. E o meu lado pantagruélico, ao molho pardo, papava sem dó, nem piedade a loura que desdém da culinária cabo-verdiana. Esta saiu-me. Mas prometi escrever ao sabor do vento. Aos zéfiros…

PREMONITÓRIO livro, não se sabe se de bom ou de mau costado: Carlos Veiga – o rosto da democracia. Seu apresentador Abraão Vicente (que, por duas vezes, já o foi dos meus livros) tem razão: há que ler para se ajuizar. Não sei sobre a qualidade do livro, ainda por ler. Mais rica a bibliografia cabo-verdiana terá ficado, isso sim. Tal biografia política introduzirá outras portas para o catálogo bibliográfico nacional, igualmente por elaborar. Se de bom ou de mau costado, só o tempo dirá. Precisamos de portas necessárias para novos tempos…

PODEREI expressar-me, mais a gosto, nos meus poemas. Ou, então, no contragosto, a minha prosa, pois que o romance está feito. É brinquedo deste tempo. Crónicas, fi-las para marcar o tempo. Ou tais tempos. Mais que tempos, já que também para testemunhar lugares. Cronistas de viagens, sê-lo-emos afinal. Descobrir, de repente, a ilha dos amores e estender-se ali no vagar das horas que nos restam. Mas isto é assim: um indivíduo passa-se, qual Ulisses entre as deusas, e quer navegar pelo mar infindo. Como mesmo era aquilo? Navegar é preciso, viver não é preciso…

PRONTO, assim à parva, fecho agora o ciclo do Entre-Nós. Estar-se gagá diante da larva é o grande segredo, já que não sei levitar, nem ficar em nirvana. Ademais, não nasci para faquir. Burro velho já não aprende sobre certos segredos ao estilo desenxabido. Escrita boa era a do jornalista Manuel Delgado. Era mesmo a doer. Agora nós: Oi, partida abo é um dor profundu. Aplaudam lá a esforçada piada deste cronista a partir...