sábado, novembro 21, 2009

Où est ma chatte?

Um pequeno derrame na perna direita à conta das varizes hereditárias e crónicas. Um poema que não chega ao fim. Tenho o Word 2007 aberto e a síndrome persiste. Poeta soooooooofre. Fechar o soneto tem disso. Derrapa-se no último terceto e eh pá perdeu-se o nexo disto. O que ficou dito pode ser prosa. Ou prosódia apenas. Para muito distraído, pode até ser verso. Mas poesia? Estavam nele o lago e a montanha; estávamos  nós a perscrutar o barulho das águas, mas do cisne nem sinal. Terá ele partido para as bandas de Montreaux? Será que o bicho faz o Interlaken?  Já bem longe do soneto, o meu avô gostava das canções tirolesas e escutava-as, pela rádio suiça, morrendo devagar na sua cadeira de baloiço. E os meus pais partiram um dia para a beira dos Alpes, mas não viram (contaram-me depois)  "Alice no País das Maravilhas". Na minha boca, Lewis Carrol balbuciaria: "Où est ma chatte?". Um poema que não chega ao fim e o mundo que não acaba aqui. Dizem que há por aí um calendário maia que termina o mundo em 2012. É o que conta “Catástrofe 2012”, filme de Roland Emmerich. Só que, desta janela, estou preocupado com a epidemia da dengue. Isto é "Cabo Verde 2009". Desenvolvimento médio, parceiro da Europa, etc & tal. Com a presença massiva do aedes aegypti, mosquito vector da dengue, com urbanização acelerada a  custo grave da infra-estrutura e do saneamento ambiental, com a elevação da temperatura inclusive em Novembro, com a livre circulação de pessoas e bens como se não estivéssemos também na rota mundial da dengue. E a globalização, mal cuidada e não pensada enquanto abordagem do caos, que perturba toda a biota nativa de, praticamente, todos os tipos de ecossistemas da Terra, inclusive a destas pequenas ilhas no Atlântico. Prosa ou verso, o certo é que isto está mau. Julio Cesar, Jean Calvin e Jorge Luís Borges, homens diferentes em tempos diversos, curvaram-se diante do lago. Estou delirante. Não apenas por causa de um pequeno derrame na perna direita. É que estou diante de um poema que não chega ao fim...