terça-feira, abril 20, 2010

Liturgia

Caia sobre meu corpo a morte
e me desnorteie por ora a vida
ficando eu, de poema, saciado.
Que a maldição dos deuses venha
ao sopro do destino
e me imponha o calendário chinês,
o horóscopo e os jogos do zodíaco.
Venha o raio no vão dos céus
e me troveje e relampeje,
me alague numa enchente jamais vista.
Quero, agora, estar fora dessa barca
e desdenhe-me Noé, pois sou já poeta
e bom de briga.
Sinos dobram das igrejas, coros,
música outra, tanto dilúvio,
pássaros que voam do vale, parta eu
para o nada – sou feliz!


Filinto Elísio
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