terça-feira, fevereiro 08, 2011

Rio em seu rito

Do rio e do seu rito

Percorre-nos uma espécie de rio, que não será linear, nem em toda a pressa, de margens ora estreitadas, ora alargadas, mas sempre em seu rito, em que dirás ser História (e nós dentro dela) pelo vector dito por Marx e eu ousaria ser dialéctica mais maluca do que a pensada; percorre-nos, não apenas o sangue que se desagua no estuário da morte, mas a vida que, sendo tal desvario, nos torna navegadores até do nada, cientes de sermos uma simples gota de água. Frágil borbulha nessa enxurrada. Pequena borbulha, aluvião de passagem. Uma coisa estranha, pequena de tão tamanha e grande pelo modo que entranha. Rio em seu rito…

Indícios do tempo

Eleições feitas, crispações desfeitas. Amizades repostas. Mãos à obra, pessoal. Escolheu-se uma nova composição parlamentar e, em consequência desta nova legislatura, um novo Governo. Agora é hora de trabalhar, trabalhar, trabalhar. Cabo Verde precisa de bom governo e de boa oposição. Para ambos, é tempo de muda. José Maria Neves, político visionário e arguto, saberá que, para umas coisas, «mesti manti» e que, para outras, «mesti muda», sendo a democracia um espaço de intervenção de todos e para todos. Mais do que governar para as pessoas, Neves terá de governar com as pessoas, introduzindo inovações sociais, económicas e políticas. Não podem os partidos políticos açambarcar (e muito menos, monopolizar) a política, nem devem sonegar à sociedade civil o debate sobre o futuro. Mais Cabo Verde, que é o caminho a seguir, terá de ser gizado em debate alargado. Estamos prontos…

Do assentar da poeira

Depois da poeira assente, o que se deseja afinal senão a democracia, a equidade e a justiça social, a paz e a harmonia com o nosso meio ambiente natural – as tais palavras-chaves sendo, por isso, a qualidade de vida para todos? Deseja-se também introduzir um algoritmo nessa coisa colectiva e febril para a optimização individual, sendo esta a parcela que faria o somatório (e a lógica natural) daquela. Deseja-se, amiúde, que cada pessoa veja no processo histórico o seu processo pessoal, sem que tal seja entendido pelos «colectivistas de serviço» como egoísmo ou ilegitimidade. Deseja-se, como diria Edgar Morin, uma clara ecologia da acção. Haja ousadia e ambição…

Crónica mutante

Qual a crónica certeira para os tempos que são novos? Quais as novas respostas para quem, pela vida, só soube navegar na escrita? Continuar a reportar o ramerrame e repetir semanalmente aos leitores assaz sentimento? Ou derramar palavras como quem joga pedra às ondas e delas esperar a vaga mais furibunda e avassaladora? Serão verbos metaforizados esta busca de um discurso coerente e louco? Os mesmos ficarão condicionados pelo recente furor eleitoral? O cronista prepara-se, com armas e bagagens para sair da cena e, em assaz contagem decrescente, quer ele partir para novas aventuras estéticas. Pode? Pode sim e tão livre quão bíblico lhe continua o arbítrio…