quarta-feira, março 24, 2010

Gosto quando te calas porque estás como ausente

Gosto quando te calas porque estás como ausente,

e me escutas de longe, e minha voz não te toca.
Parece que os olhos te houveram voado
e parece que um beijo te lacrara a boca.


Como todas as coisas estão plenas de minha alma,
emerges das coisas plena da alma minha.
Borboleta de sonho, te pareces a minha alma,
e te pareces à palavra melancolia.


Gosto quando te calas e estás como distante.
E estás como queixando-te, borboleta em arrulho.
E me escutas de longe, e minha voz não te alcança.
Deixame que me cale com o silêncio teu.


Deixame que te fale também com teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longínqüo e singelo.


Gosto quando te calas porque estas como ausente.
Distante e dolorosa como se houvesse morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E estou alegre, alegre de que certo não tenha sido.




Pablo Neruda
in Vinte poemas de amor e uma canção desesperada