terça-feira, dezembro 15, 2009

Beira-mar

(Sem luminárias, nem farfalhares. Noite de vento apenas. Amaciando a fera de mim. Estar sempre numa procura para onde não se chega ao fim. Tu não viste o céu em Spingueira. Este vampiro quis, de repente, declamar os versos de Fernando Pessoa)




Água de pranto

Canta-se morna antiga. Enquanto venta morro abaixo. E seu silvo, quase em clave, acompanha o acorde de pranto. A lira é triste. Sem espavento. O dó das estrelas, luzindo há tanto tempo! E há tanto tempo não estás. Antes, a minha vida tornara-se tão sem gosto de nada. Agora, reaprendo a estar só. Rumorejo de água. Noite de vento…



Água por quebranto

Por quebranto. Esotérico que estou, salvo seja. Eu acordei de um sonho estranho. Dir-se-ia filme de Almodôvar. Creio que te apaixonaste por um Poeta. E, nos recônditos pensamentos, suspiras em bolha espumante sob a poeira de amanho. Arfando por migalhas de palavras ou de versos incontidos. Acordei dentro de um quadro de Tchalé Figueira e seus monstros fizeram-me gritar nas cores. E a musa de um Corsário, em rosário de águas, cobrava-me o sol-posto do seu rosto. A dona pulou também para dentro da tela e acordei todo pintado, espanejando em pássaro de tantas águas. Dos mares, rios, lagos, lagoas. Os afluentes do amor…



Espelho de água

Ó varanda, o que me desnorteia é poesia. Ó mar semeado nesta azulada solidão. Ó arrebentação de qualquer maré, minha mãe tão longe. O que me atravessa para além da promessa? O que me atormenta e me amofina? Momentos, saudando a morte como à rosa dos meus anos, de meia-luz para te lembrar. Longe de ti, o que se acende ao luar é fogueira de tua saudade. E, nesta noite, os mais felizes, como um coração desenhado a giz, cantam “Espelho de Água” no escuro…



Nevralgia de lua

Podes vir agasalhar-te no meu peito. Os americanos foram à lua e esse luar virou-se nevralgia. Água da palavra, tua terceira margem. De música. Ao quando chega-se assim. Descalço e andrajoso. Exausto. Com poesia. Crioula, chovem estrelas. Ena, tanta prata…