terça-feira, dezembro 22, 2009

Das três coisas

No que adormeci de repente, acordando anos antes. Como se rebobinasse uma fita. E tal me levasse, no dizendo fazendo, ao passado. Três coisas prendiam o meu espanto. O vai das ondas, já que lhes entendia o vem. O ressuscitar ao sétimo dia, mais que à extenuante escada do Calvário e ao exangue do crucificado. E a gelatinosa chuva que caía quando te foram buscar à porta do Liceu Domingos Ramos. Três coisas faziam quebrar o meu sono e, no quebranto de acordar, tremia assim de frio e de lágrima, não sabendo eu fazer o pelo sinal e muito menos rezar o Pai Nosso. Há uma quarta, que não conto, posto que fadava em silêncio o acalento que ao pranto se sobrepunha. Três coisas: Pai, Filho e Espírito Santo. E a quarta, desse credo não falaria se, de resto, ámen também não se explica, ficando impregnado na crença de cada um. No que adormeci, descrente do retorno, não sabendo exactamente quanto dos meus sonhos foi pesadelo, nem podendo dar conta dos teus arfares mais tarde, nevando alhures sobre os Alpes gementes. Desconfiado de cada flor brotada à varanda de Cressy, contava-te eu dos musgos entre as gretas de lagartixas e fazia-te rir dos formigões, das aranhas e das banbalutas.