segunda-feira, dezembro 14, 2009

Inter Coetera

(Por este tempo Cabo Verde ganhava o Segundo Compacto do Millenniun Challenge Account e o escritor pesquisava, doutro tempo, como a Ordem dos Templários, mascarada de Ordem de Cristo, formulava mapas e astrolábios com que a Bula Inter Coetera abençoara os ibéricos com o Tratado de Tordesilhas)






Cá nas ilhas


O pessoal que não leu “Dom Quixote de la Mancha”, de Cervantes, desconhecia o paradigma de Quijano e ficava pelos ajustes de seu amo servil. Sancho Pança, de pia e de casa. Se ele não via senão moinhos aos monstros que aquele perscrutava, o severino filho da terra, neste tardio caldeirão dos povos, ainda cá não estava para a panegírica chegada das naus. E quantas armadas chegaram desse horizonte para o azul? Quando os helicópteros da NATO sobrevoavam as nossas cabeças, não tão alheios à megalítica pedra com que transformamos a secura, disse-te que eram Cavaleiros da Távola Redonda. Mas tu, minha Dulcineia, recusavas todos os filmes que não falassem da Boa Governação. E contra tais motes, modos e modas, argumentos não havia…






Fazendo doer o despudor


De tudo fazia siso e senso morrer a desoras. Insano ser de outra maneira. O passar-se lesto. Ou no lapso de um triz; de só colapso cair redondo, como um ponto. Canastro acabado. Minha parte mulher seria actriz. Como o cozer do perfumado arroz. Atroz correr atrás da sorte e, de pronto, ganhar no loto e comprar um lote; e rever, entre a luz e a sombra, uma parada militar e a procissão, o Processo de K e o blackout da Electra. Acaso gozo daria viver em contramão, riso de virar chouriço, risco de virar petisco; eia sumiço de virgem, vagem de primeira boca. No descaso, louco; no facebook, foto. Haiku & ler Mishima. Na viagem, nuvem. Em lento, que o vagar concede, tal qual fogo brando, fazer doer o despudor…






Barcos encalhados


Ao redor da ilha uma centena de barcos encalhados. Não longe de ti um barco encalhado, cuja história conheces. Leio-te o poema “Cinzeiro”, de Jorge Barbosa. De quão longe destino era o deste navio? As gaivotas não o dizem. Aliás, as canoras aves só espanejam suas plumas brancas entre as espumas e a neblina. E, se amanhece, és tu à beira-mar. Ora em pedaços, ruínas de não se sabe que navegação, eis que também de prumo perdido os teus olhos náuticos contam lendas. Dunas. Coadunas areia e salitre, espumas e marés. Tens um caramujo no cabelo e olhos postos nas estrelas. Há momentos que parecem versos de Jorge Barbosa. Mas eu, perdoa-me o beijo, sou doutra pluma. E a tua ilha é um bocado de areia rodeado de barcos encalhados…



(E chegados a Cabo Verde, novos mapas de navegação astronómica foram desenhados, dando aos Cavaleiros, então Navegadores, outra orientação das estrelas do sul. E há quem diga que estas ilhas continuam geoestratégicas. Outros preferem que tudo advém da Boa Governação)