terça-feira, fevereiro 15, 2011

Trancosos

Uma questão de método

Nada tenho contra o método de Hondt, que sempre ajusta a minoria contra a tentação «tsunâmica» de quem ganha. Mas devo dizer que o método provou falho e alienador da cidadania nestas últimas eleições legislativas. Em verdade, o erro nem está no método. Está na sua aplicação tout court em cima da reforma eleitoral, em que os círculos eleitorais decalcados em concelhos/municípios passaram a ser círculos de ilhas, à excepção de Santiago, rachado ao meio – norte e sul. O caso do Fogo, a melhor vitória eleitoral absoluta do PAICV, acabou por ser relativizado pelos mandatos que fixou (3 a 2) sobre o MpD. Contas feitas, bem feitinhas, revelam que os tambarinas conseguiram mais 4.306 votos que os ventoinhas na ilha do vulcão, destes 1.902 não contaram na determinação de mandatos. Neste mesmo arquipélago e no quadro das mesmas eleições, o partido de Carlos Veiga consegui (2 a 1) sobre o partido de José Maria Neves, na ilha do Sal, com um diferencial de escassos 78 votos. Se a base da democracia reside no voto expresso de cada um, os dois exemplos provam que algo não vai bem e que precisamos mudar de método. Sejamos claros e corajosos; sejamos conscientes em relação à cidadania: este método Hondt em cima da dita reforma, por sinal constitucionalizada, provou-se empobrecedor do processo eleitoral. Quelle honte!

Método_logia

Lá por isso, não defenderia o sistema absoluto. O ganhador toma tudo e seus afluentes, assim não dá. Ficava-se sob o risco da tirania da maioria, aliás contraproducente como diria Lani Guinier. Um amigo, despeitado por ter perdido as eleições, disse há dias que o nosso sistema está falido e que era momento de olhar para o sistema eleitoral americano. Fiz-lhe saber que a nossa constitucionalidade era outra. Diferente. Com méritos apartados daquele, com devido respeito. Qualquer dia traremos Rebelo de Sousa para dar «doutas lições» sobre este particular, já que a parvónia o aplaude de pé, para a náusea geral. Fosse, entretanto, em método absoluto, haveria nestas eleições um partido reduzido a 7 deputados (3 no Sal, 2 em São Nicolau e 2 no Maio)…aí era de facto um Deus nos acuda!

Outra história do Trancoso

Não é porque a parvónia já parece a história do Trancoso, mas porque nascer aqui e viver por cá, entre discursos caudalosos e histerias intelectuais das gabrielas, dispensa qualquer imitação ou pastiche de filme de Frederico Fellini. O nosso pátrio eleitorado acabou por dizer da sua justiça e, em passe de mágica, metade dos outdoors desapareceu das ruas. Não foi abacadabra para qualquer, mas algo digno da mui irreverente personagem que, em tempos mais recuados, deu de entrar nos meus pobres textos. Adivinhem que dou um doce. Caracterizando os sujeitos, com os seus predicados todos, eis que vos faço o «respectivo enquadramento». O Pranchina (de baptismo se apelidava Nené Prancha), era daqueles que só aparece de raro em raro, no caso um em dois milhões, significando, pela probabilidade, não haver mais desses em Cabo Verde. Profeta de papel passado e cidadão mal destinado. Mau das oiças, teimoso que nem uma porta, o seu desporto radical era se meter com gente grande e poderosa. Fazendo crónicas, ora furtivas, ora burlescas, entrepondo-se quase sempre no meio de crise política, de briga por mulherio ou de decisão de penalty, o Pranchina (artigo definido, devido à nossa intimidade) não tinha hora para aparecer, nem hora para dar a milha. A última do infeliz é insistir que a Escola do Turismo e Hoteleira está bem-posta e, já agora, composta e de que maneira na Menina do Mar. Ademais, acha que a iluminação da pedonal faz a capital parecer Londres, intensa e a nevoenta é a luz dos ditos painéis solares. Só lhe falta Jack, o Estripador, para isto ficar chispe, chique e foggy. Tanto esforço para o fiasco eleitoral. E as aves de rapina arribadas do reino que tantos comensais arrasaram nos melhores restaurantes da cidade que nos une? E esta? Aqui del rei, acadiré, cruz com a cadeira, etc e tal. Resignando à vontade divina, mas rebelando sempre à desfaçatez humana, a personagem continua de pouco pé no chão e de muito planar na lua. Entre o chão de massapé e assaz esvoaçar lunante, o cronista escolheria este a aquele. Já não se fazem mais desses na parvónia! Fui…