“Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial…”
Caetano Veloso
(Horace Silver em “Jazz Has a Sense of Humor”. Quem são estes novos avatares, nós quem sabe, acabrunhados diante de um bebé a nascer, mas que nos rimos da ira dos deuses e dos imperadores, não fossem Roma e todas as multinacionais até hoje lérias e pilhérias podres poderes sob as estrelas? Quem são estes bastardos, senão nós pela certa, filhos de um tal Zodíaco que permitiu homens às feras para que portentoso fosse o Panteão e tão estrondoso o ruir das Torres Gémeas quão espalhafatoso o vir abaixo do Muro de Berlim? Quem são estes malucos de repente, sombras de nós em Nero e Calígula, emocionados ao desabrochar das flores e com síndromes de Peter à espera do assassino serial que por aí anda?)
Da Roma, S.A.
Patrícios, tribunos, vassalos ou raios que os partam, tudo o que Roma afinal determina, Césares ou sacerdotes, ânforas cheias de nada, pois que o absinto é fugaz tal qual o incenso das mortalhas e o perfume das vestais virgens – dizia-vos, meus amigos, nada paga a barriga de atum e o queijo fresco das ilhas no português da Achada de Santo António, e olhem que os persas vão, enfim, enriquecer o urânio e os turistas sentaram-se, com pompa e circunstância, na mesa ao lado. Rómulo e Remo, ambos obnóxios para a vida e para a morte, firmaram tal irmandade nas margens do rio Tibre. O resto (Bill Gates, Steve Jobs e os demais da Revista Fortune) sendo um grande Carnaval (estendal de folia contra esta fobia) e que nos acontece ao Haiti é uma grande pornografia…
Da também Praia, S.A.
Há também a Cidade, S.A., uma coisa disforme e viscosa. Um Maquiavel pensando de raiz e disfarçando aqui de morabeza traçava-lhe o PDM numa dúzia de diagonais. Esta Cidade, S.A. precisa assumir-se: metropolitana. Sonhemo-la com causa e consequência. Contra a ordem que nos impõem os hunos, os vândalos, os ostrogodos, os visigodos e os godos todos. Antes que venha o diabo tecê-las. Isso com desconto pela concupiscência das suas canções de puras e dengosas almas. Tão da pedra quão da fina, dir-se-ia que lhe refila a matéria vida. Os “thugs” que lhe surpreendem os pequeníssimos burgueses surgem dos “ghettos” e transformam-se em questão de segurança nacional. É o que está a dar. Mas também pornográficos esses bairros à mercê da sorte ingrata. Água da palavra escusa. Lágrima de pantanosa tinta, retinta ausência de saneamento, suas pálpebras de lixo jorrando rímel. Com BAC, BIC, SIR, PJ e quejandos, convenhamos, alguma coisa está fora da ordem. Qual o investimento per capita nesta cidade? Escola, escola, escola. Da ciência, da arte e da cidadania. Emprego, habitação, saneamento, luz e água, sendo de viés certos estudos, é disso que a juventude precisa para não implodir a catedral dos ditos doutos.
Nayé
De repente tudo se enfarpela: navio. A viagem entrevada, de mar rodeado, da quilha à proa. Ser ilha (ó toada) de barco à vela. Náufrago, sendo nauta. Acto primeiro em nuvem, depois ar e, ora, paragem, alma desacata tendo a morte em seu afago. Noite de Sevilha ou de Lisboa, dançando Easy Skankin’. Em meridiano de Tordesilhas coube-nos também a ilha de Gorée. Acto segundo em Google Buzz, alfabetizar-se já em inclusão digital. Equinócio ao meio-dia em que o açoute, melodia de Malinké, trespassava pelas terras do Mali. Nayé, em teu altar de celebrar tudo que se revela, curto pavio o meu e está ele cheio de fogo…
Átila e seu dilema
Não é que também não me distraiam os demagogos. As maravilhosas aventuras dos filhos da pátria são de rir até mais não. Mas isto terá de ser para além do pão e circo. Além das crucificações e das feras. E muito menos de Nero incendiar a cidade eterna. Tempo para “Love and Broken Heart”, de Wynton Marsalis. Para mim a grande questão era aquela colocada a Átila, entretanto em Roma. Como é que se pode voltar para as estepes depois de ver o Fórum? Geeeeeeente…isto não está fácil!
(Agora, Manu Dibango toca “Douala Seranate”. De todos os males causados a Cartago, isso de queimar seus campos de cereal com sal e parafina, radiação atómica sobre a Sérvia e o Iraque, é selvajaria elevada ao infinito. O sonar de um submarino atómico entre o abissais caminhos cabo-verdianos, desorientando as orcas, as baleias, os cachalotes e os golfinhos. Os olhos do cronista precisam ficar pelos ajustes, pelas miudezas que vão pontuando o quotidiano. Somos sempre sós e mesmo quando a sós nessa candelária. No cais de não partir nos esquecemos que nenhuma claridade tem a candeia de cada um de nós. Todavia, os meus olhos de “luna llena” vejo a tua intensa luz. Hoje, Nayé, estamos iluminados pela escuridão da Electra. E, se isto é loucura, nada melhor que um banho de chuva. Vem à chuva ou na cachoeira, vem coreografar a dança de Shiva…)