segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Ouvindo sublime música, lendo Stanley Bing ou Geeeeeente, isto não está fácil

“Alguma coisa está fora da ordem



Fora da nova ordem mundial…”



Caetano Veloso






(Horace Silver em “Jazz Has a Sense of Humor”. Quem são estes novos avatares, nós quem sabe, acabrunhados diante de um bebé a nascer, mas que nos rimos da ira dos deuses e dos imperadores, não fossem Roma e todas as multinacionais até hoje lérias e pilhérias podres poderes sob as estrelas? Quem são estes bastardos, senão nós pela certa, filhos de um tal Zodíaco que permitiu homens às feras para que portentoso fosse o Panteão e tão estrondoso o ruir das Torres Gémeas quão espalhafatoso o vir abaixo do Muro de Berlim? Quem são estes malucos de repente, sombras de nós em Nero e Calígula, emocionados ao desabrochar das flores e com síndromes de Peter à espera do assassino serial que por aí anda?)






Da Roma, S.A.

Patrícios, tribunos, vassalos ou raios que os partam, tudo o que Roma afinal determina, Césares ou sacerdotes, ânforas cheias de nada, pois que o absinto é fugaz tal qual o incenso das mortalhas e o perfume das vestais virgens – dizia-vos, meus amigos, nada paga a barriga de atum e o queijo fresco das ilhas no português da Achada de Santo António, e olhem que os persas vão, enfim, enriquecer o urânio e os turistas sentaram-se, com pompa e circunstância, na mesa ao lado. Rómulo e Remo, ambos obnóxios para a vida e para a morte, firmaram tal irmandade nas margens do rio Tibre. O resto (Bill Gates, Steve Jobs e os demais da Revista Fortune) sendo um grande Carnaval (estendal de folia contra esta fobia) e que nos acontece ao Haiti é uma grande pornografia…



Da também Praia, S.A.

Há também a Cidade, S.A., uma coisa disforme e viscosa. Um Maquiavel pensando de raiz e disfarçando aqui de morabeza traçava-lhe o PDM numa dúzia de diagonais. Esta Cidade, S.A. precisa assumir-se: metropolitana. Sonhemo-la com causa e consequência. Contra a ordem que nos impõem os hunos, os vândalos, os ostrogodos, os visigodos e os godos todos. Antes que venha o diabo tecê-las. Isso com desconto pela concupiscência das suas canções de puras e dengosas almas. Tão da pedra quão da fina, dir-se-ia que lhe refila a matéria vida. Os “thugs” que lhe surpreendem os pequeníssimos burgueses surgem dos “ghettos” e transformam-se em questão de segurança nacional. É o que está a dar. Mas também pornográficos esses bairros à mercê da sorte ingrata. Água da palavra escusa. Lágrima de pantanosa tinta, retinta ausência de saneamento, suas pálpebras de lixo jorrando rímel. Com BAC, BIC, SIR, PJ e quejandos, convenhamos, alguma coisa está fora da ordem. Qual o investimento per capita nesta cidade? Escola, escola, escola. Da ciência, da arte e da cidadania. Emprego, habitação, saneamento, luz e água, sendo de viés certos estudos, é disso que a juventude precisa para não implodir a catedral dos ditos doutos.



Nayé

De repente tudo se enfarpela: navio. A viagem entrevada, de mar rodeado, da quilha à proa. Ser ilha (ó toada) de barco à vela. Náufrago, sendo nauta. Acto primeiro em nuvem, depois ar e, ora, paragem, alma desacata tendo a morte em seu afago. Noite de Sevilha ou de Lisboa, dançando Easy Skankin’. Em meridiano de Tordesilhas coube-nos também a ilha de Gorée. Acto segundo em Google Buzz, alfabetizar-se já em inclusão digital. Equinócio ao meio-dia em que o açoute, melodia de Malinké, trespassava pelas terras do Mali. Nayé, em teu altar de celebrar tudo que se revela, curto pavio o meu e está ele cheio de fogo…



Átila e seu dilema

Não é que também não me distraiam os demagogos. As maravilhosas aventuras dos filhos da pátria são de rir até mais não. Mas isto terá de ser para além do pão e circo. Além das crucificações e das feras. E muito menos de Nero incendiar a cidade eterna. Tempo para “Love and Broken Heart”, de Wynton Marsalis. Para mim a grande questão era aquela colocada a Átila, entretanto em Roma. Como é que se pode voltar para as estepes depois de ver o Fórum? Geeeeeeente…isto não está fácil!





(Agora, Manu Dibango toca “Douala Seranate”. De todos os males causados a Cartago, isso de queimar seus campos de cereal com sal e parafina, radiação atómica sobre a Sérvia e o Iraque, é selvajaria elevada ao infinito. O sonar de um submarino atómico entre o abissais caminhos cabo-verdianos, desorientando as orcas, as baleias, os cachalotes e os golfinhos. Os olhos do cronista precisam ficar pelos ajustes, pelas miudezas que vão pontuando o quotidiano. Somos sempre sós e mesmo quando a sós nessa candelária. No cais de não partir nos esquecemos que nenhuma claridade tem a candeia de cada um de nós. Todavia, os meus olhos de “luna llena” vejo a tua intensa luz. Hoje, Nayé, estamos iluminados pela escuridão da Electra. E, se isto é loucura, nada melhor que um banho de chuva. Vem à chuva ou na cachoeira, vem coreografar a dança de Shiva…)