Com tristeza, soubemos do falecimento de Norberto Tavares, de quem éramos amigos e por quem tínhamos enorme admiração. Admirávamos nele o talento artístico e a convicção com que encarava Cabo Verde no Mundo; a forma generosa, mas crítica, com que se permitia às coisas instituídas, quase sempre alienantes. E a nossa amizade por ele se fundamentava na abertura do espírito e na cordialidade no abordar tudo, inclusive os assuntos mais triviais. Quando lançara há muito, muito tempo, o álbum “Volta pa fonte”, afirmação cultural e cidadã de singular transcendência, Norberto Tavares assegurara o seu assento (tónico acento, diga-se de passagem) no panteão dos músicos de Cabo Verde. O seu diferencial rítmico, melódico e poético, bem como semântico, estava ali para ficar e marcar várias gerações sobre a necessidade de se modernizar pelo afirmar das origens e da identidade. A metáfora do amor à mítica Maria, de lata de água à cabeça, palmilhando os caminhos da fonte, continua a marcar o nosso imaginário e a determinar a nossa férrea vontade de mais Caboverdianidade. Saudamos o amigo Manuel Veiga que, então ministro da Cultura, rebaptizou, na Cidade da Assomada, o Centro Cultural Norberto Tavares. Saudamos também o cidadão Carlos Tavares, emigrante nos Estados Unidos da América que doou um rim a Norberto Tavares numa arriscada operação de transplante. E gostaríamos que, por ocasião do 35º Aniversário da Independência Nacional, Norberto Tavares recebesse a condecoração do 1º Grau da Ordem do Vulcão, entre tantos artistas agraciados. Afinal, tratava-se do autor de “Nos Cabo Verde de Esperança”, irrecusável hino que nos faz sonhar!
Eleições com rosinha e outros que tais
Prepara-se a procissão para sair do adro. Em verdade, os cães, por sacrilégio, de há muito latiram ao latinório. Egrégio momento, não fosse esse de promessas vãs e de sacos de cimento por votos. Pela missa, presumem-se raios e coriscos, que tal areal, quando entrado pela rua, ninguém o segura. Enxurrada de povo, dir-se-ia a de água, é coisa mesmo séria. Povo desaguando no estuário do processo histérico. Já se viu isso antes, primeiro, ao tempo em que acreditávamos na revolução e, depois, ao tempo em que embarcamos na democracia. Agora, somos mais lúcidos. Menos bentos com a República. Ninguém faz vénias aos venais. Ou faz? Eleições com rosinha e outros que tais desafinam qualquer um. É nosso caso. Por modo que descrer nas manhãs que cantam e essas lerdas é também uma forma de ser e de estar em tudo. Ou, consequentemente, em nada. De sorte, sendo sempre cidadão, é-se poeta consequente. Apoiando causas, verte-se o suor e derrama-se o sangue, como se expressa em palavra, mas não se matricula para o exame da polis. Há uma direita sinistra que se disfarça e se recauchuta, mas que, trocada por miúdos, não engana mais ninguém. É preciso dar-lhe luta...antes que anoiteça.
O Processo
Lia-se Kafka, pela derradeira vez. Vasculhava-se n´ “O Processo”, a ver se o que acontece por cá era menos absurda que a sorte de K, julgado e condenado por uma engrenagem maior e invisível. Onde é que já se viu o Estado de Direito Democrático, que se arvora atento aos Direitos Humanos e tudo, permitir confissão de preso sob tortura ou sob efeito de droga? Ou de acção processual acelerar-se por interesse de um acusador público, subvencionado claramente por um maquiavélico comerciante da praça? Ou mesmo a promiscua relação entre uma testemunha, entretanto reclusa de outro crime, receber de um procurador o livro de Dan Brown, simulacro de alguma corrupção ou chave de um mistério que, a todos os títulos se revela promíscuo, senão mesmo corrupto? Pior do que isso, a escala de um juiz da mafiosa troika – ficando ainda a recorrente pergunta de quem julgará os juizes – para ajuizar um jogo de cartas marcadas e de trunfos na manga. E, ante que anoiteça, é preciso lhe dar luta...
2011
Ei-lo à porta. É hora de nele entrarmos. De forma nova e inovada. Sem a corrupção da Justiça. As grandes questões do nosso tempo serão: uma agenda verde para Cabo Verde, uma agenda de economia da cultura e uma agenda da economia solidária. Por um desenvolvimento sustentável...porque um mundo melhor é possível. Ademais, meus caros, muito paz, muito axé, sarava & morabeza!