De insana febre
Azafamado dia, de não sei que santo, mas que não me deixa flutuar sobre as perguntas transcendentes. Logo eu fazendo anos. Por que este receio de romper com as coisas estabelecidas, obtidas, creio eu, por ventura, e de me recomeçar como o mais absoluto zero à esquerda? Não cairá por isso sobre mim o manto da sabedoria. Nem fará de mim estrela de algum ocaso sem fim o estar ainda aqui. A límpida lucidez que amanha o ser em certa idade, em mim ainda tarda, embora já não sinta a fruta em seu gosto inteiro, nem pressinta o cio em seu pleno gozo. De vez em quando, penso que a minha vida chafurda mesmo no signo do aquário. Um existencialismo aquoso. De peixe a crescer e a ficar, claustrofóbico, neste aquário. De fazer cinquenta anos, contados, e saber que tudo se acaba afinal de insana febre.
Em campanha
Por cá, os ânimos estão exaltados por causa das eleições legislativas. Até os bons amigos ficam desavindos e ainda bem que é temporário. O berreiro dos carros de som incomoda-me. Não tenho vida para esse extravasar da má-língua e esse desprezar cautelas. Bem que gostaria que não se transformasse este lugar no reino demagógico dos acéfalos. Por mim, avançava-se o cronómetro e acabava-se logo com isto. Que chatice. Só espero que não haja prolongamentos, essa gritaria de fraude e outros disparates, que a malta anda estafada dessas coisas, e a hora, convenhamos, é de fazer, fazer, fazer…Cabo Verde. Aqui, e “en passant”, ficará dito que os partidos não são todos iguais. Há diferenças de forma e de fundo. Há quem se empenhe a transformar Cabo Verde. Mas também há quem insista a desiludir até nisto.
Deprimente dia
Cliff Arnall, psicólogo, chegara a uma fórmula lixada para dizer que 24 de Janeiro, dia dos meus anos, é o mais deprimente do ano. Raio de coisa esta fórmula 1/8C+(D-d) 3/8xTI MxNA. O Pranchinha, abusado de primeira apanha, diz que “C” tem a ver com o factor climático (logo em Janeiro, sendo os dias mais frios), “D” as dívidas pelos gastos do Natal, o “d” significa as despesas de Janeiro e o “T” é o tempo de «sofrimento» do Natal a esta «data querida». A letra “I” é tentativa falhada de abandonar um mau hábito…E “M” resulta das motivações individuais e “NA” a necessidade de mudar de vida. Nas antípodas a esta “data querida”, o dia 20 de Junho. Não queria estar em nada disto, senão ficar aqui horas esquecidas a jogar conversa fora. Cada momento, sendo único, é uma pérola a não se desperdiçar. Fórmulas à parte…