sábado, março 20, 2010

De tudo (ao meu amor) serei atento



«No auge da tempestade
há sempre um pássaro para nos tranquilizar
É a ave desconhecida
Que canta antes de voar»

René Char




Do (Ricardo) Riso

A Revista África e Africanidades realizará o seu I Ciclo de Encontros, com palestras e minicursos abordando temáticas que se destacaram ao longo das suas edições. As actividades serão realizadas nos dias 05 e 12 de Abril de 2010, no Largo de São Francisco de Paula, 34 - 5º andar - Centro - RJ, e as inscrições só poderão ser feitas no site da revista. Para efetuar sua inscrição, clique aqui.


Pego no html

Solta-se um hiperpoema tridimensional e interactivo. Creio-o conseguido. É Dia Mundial da Poesia. Tão logo amanheça far-te-ei uma proposta visual de poema substantivado a partir do nosso chat no Google Buzz. Não me fio na utopia do movimento quando de arte se trata. Tão pouco tenho fé nos poetas transitivos como se a pöesis, ao invés de significado, fosse um plástico significante. O suporte não importa. Pode o pergaminho ser do mais rudimentar. Ou muito bem o interface de um twitter, mas sem a ave desconhecida de René Char, tenham paciência os betinhos de serviço, pois aquilo não funcionaria. Faltar-lhe-ia um canto antes de voar...


Estival paixão

Sem algum alarde, meus amigos, meus irmãos. Um velho amor que parte, com tantas lembranças boas à beira dos frios lagos e dos alpinos montes, me remete a estes versos de Paulo Leminski: Inverno/É tudo o que sinto/Viver/É sucinto. Um novo amor que arde, já de crepitantes promessas, como chama de uma estação que se desfolha. E o poema de Pablo Neruda assim lhe rezará: Um clima de ouro madrugava apenas/as diurnas longitudes do seu corpo/enchendo-o de frutas estendidas/e oculto fogo.


Verbo do (re) começo

Mas cá sou homem de explicar paixão? Tenho cara de quem, para além do verbo amar, esmiuça o intervalo entre a intenção e o gesto? Acaso pareço aquele que ama sem pöesis e coloca a mão no fogo sem o unguento da poesia? Tenho, antes, um coração que sossega e dorme, mas que, ao despertar, procura o amor que lhe sela o destino. Pascal Avot dizia que as palavras nos podem proporcionar um pouco de conforto no vazio da infinitude. É verdade: as palavras são balsâmicas. São purificadoras, como água benta. No começo: era o Verbo. E, acto contíguo, o Verbo Amar...

Do álacre grito

Algo me grita álacre, coração que me estremece. Uma voz do além me sabatina e juro que não me excedi na dose, pois que estou resumido, se tanto, ao debicado trago do bom tinto. Um chamado, dizia, de toada mais imperceptível que propriamente inaudível, me desperta como lacre quente nos ouvidos e sei-o anónimo. Ah, terra de fariseus e sabichões, à incompetência destes e ao malabarismo daqueles, depressa se arranjou forma de indignar o Poeta: «Sentenciemo-lo também  à banalização da escrita!». Vou ao diccionário dos signos (a cada um, o seu talião) e, como se esperava, a vergonhosa justiça ali não se encontra escarrapachada. Uma  velha da mais antiga profissão que, de toga para o disfarce, exerce o meretrício desde as profanações e agora se mancomuna com os expedientes do submundo. Putis!, haveria de exclamar o Pranchinha se estivesse entre os vivos. De resto, a História não é um privilégio, mas sim um sortilégio. Sem tréguas...