Depois do debate do Estado da Nação, apeteceu-me tomar banho de mar. Essa infusão mais filosófica que balnear. Gana imorredoura e devagar por um mergulho, escorrido de pouca, mas tão boa quão Gamboa, água pelos meus veios e devaneios. E dar gargalhadas do subtexto que esse mais velho, em sua avinagrada e burra mensagem, se assumiu de quem não sabe mais que aquilo ali. Desexplico-me (com desaforo existencial, ora), como, em demo de comparação, se aguardasse o sapo à mosca ou a aranha, de se aquietar na teia, disputasse também tal presa, posto tudo vir dar à soleira do seu a seu dono. Decomponho cada palavra, mesmo aquela do outdoor com desinência esdrúxula, que um partido deu de plantar pelos caminhos de carro, a jurar pela alma dos seus maiorais que andamos todos a dever não se sabe mil e tantos euros (cotadíssimos em colonizante paridade). Decomponho cada pensamento que precede a fala, quando as baratas fazem turismo nas fatias de bolo e as formigas laboram nas côdeas de pão. E os grilos, donos das madrugadas, cantam do que a aurora prometera e não cumprira, como se o dever nas campanhas eleitorais fosse falar verdade. Desemplifico-me à petizada, atordoada pelo Estado da Nação, ser preciso ligar-se à terra, fingir-se morto. O que faz falta é fechar os olhos. Parar de respirar só por lapso adâmico. Pelas frechas e frinchas, pelas gretas e grutas, pelos buracos negros onde entra a luz e se inexiste. E a linha recta se entorta à boca do espanto e tudo se espaventa como o ó de santa diante do mistério. O virar inorgânico, mais que pedra. Pedro de igreja, medra a basalto, ao concreto plano da montanha. O resto é lascivo e menos néscio à vossa complacência. Moda fossem adjacências à ilha grande suas sobras do arquipélago e, ainda por arriba e a jusante, sua diáspora. E moda fossem gradas às vozes de sereias assaz navegações dos porcos pela ínsula, em que os dias e as noites, de parelha, seriam, por sua banda, equinócios de nada. Banho de mar é que Hera…