Mote
Navego no Google Earth. Girando a Terra ao mote do mouse, eu te vasculho nesse recanto. Poeta tem disso. Não só para te dar conta do Conchas de Noé & Arcas Ostras – cantos, contos e causos, mas para, neste acalento, dançar contigo aquela música de Gilberto Gil, Assim, sim: http://www.kboing.com.br/gilberto-gil/1-1048426/.
Da secreta vida das plantas
Enquanto invento mais uma crónica, o meu filho mais velho arruma as suas coisas para entrar na UMass Lowell e, meio emocionado, entre o rir e o chorar, procuro entender as plantas. Para o meu pasmo leitorado a pergunta se impõe: o que tem a ver o cronista com as plantas? Pois bem, pasme-se mais ainda o leitorado: depois da poesia e da culinária, o cuidar das plantas é uma das minhas maneiras de estar no mundo. Há gente que gosta de estudar a bolsa de valores, vibrando da alta ou lamentando da baixa do Dow Jones. Há gente que suspira por Shakira e passa horas esquecidas sob o chuveiro no refrão Waka-waka. Há gente que acompanha a guerra do Afeganistão e ainda se surpreende que ganhar a guerra sem ganhar a paz seja uma espécie de chover no molhado. Eu não. Prefiro cuidar das plantas. Da secreta vida das plantas. Terei sido, outrora, um alquimista. O gozo que me dá em podar uma roseira, aprontar um camarão ao alhinho e burilar um soneto.
Pausa para o telejornal
Coloquei uma videira a trepar pelo terraço, mas a bonitona preferiu sair pelas escadas. Caprichosa, meu Deus. Agora ela está parida de umas uvinhas preguiçosas, porém doces, como o prenúncio do moscatel da Chã. Os alecrins brotam dos vasos e fazem cá um chá que nem conto. E as acácias doidivanas dando-se às abelhas o ano todo? E os manjericões que me animam o pernil no forno, prato que o outro meu filhote adora? E será que os meus cactos também aparecem no Google Earth?
Esse poeta!
Hoje, reparei que o poeta anda meio calado. Zen. Parado a ver o mundo daqui. Contemplação inconsequente, apenas. Hoje, definitivamente, o poeta não está para as coisas políticas, sociais, culturais, gramaticais, lexicais, religiosas, filosóficas, existenciais, metafísicas, ilógicas, lógicas, racionais, pundonorosas, astrológicas, atmosféricas ― e paremos por aqui, porque o rolo do papel higiénico chegou ao fim. Ademais, excesso de Google Earth também cansa…