Canta, irmão. Chove, mermão. Isso de a chuva falar mantenha. Troveja, relampeja e, não sendo ora dilúvio, isto aqui não é fácil, irmão. Enlameia-se a cidade. A capital vitoriosa da nação a ganhar torna-se uma fétida cloaca. Tresanda a excrementos dos humanos e das suas alimárias. Na babel dos aromas, emerge também o de ratos mortos e o de traficantes ainda vivos. Praia Maria da Vitória, debaixo da água dos céus, é um Deus nos acuda. Tantas construções clandestinas nas encostas e nas ribeiras a desafiarem a uma grande tragédia. Tanta pobreza, para não dizer miséria, a boiar no charco de propagar mosquitos do paludismo e da dengue, para não dizer da febre-amarela. Para acabar de vez com o sentimento épico e com a réstia do patriotismo encharcado, mercê do enormíssimo contributo para o desenvolvimento, a Electra dá o ar da sua graça e nos faz experimentar pela enésima vez o breu. Para que valorizemos os raros momentos de luz, irmão. Atarantadas, mais que às virgens loucas, raparigas das fraldas e arrabaldes, estas almas penadas que somos buscam um pingo de luz. Não essa dos iluminados que não dá uma para a caixa, mas das lâmpadas públicas e domésticas. E já agora um pingo de água. Canta, irmão. Chove, mermão. E é como aquilo de morrer de sede ao pé da fonte. Não ter por senão este torpor. Tê-lo, com desnorte e desalinho, ao escárnio dos subalimentados do intelecto, aliás dos nossos tão patuscos quão burlescos pequenos burgueses, diga-se. O resto, mermão, é continuarmos com a cabeça presa ao corpo e termos estômago (o dos nossos filhos, sobretudo), tal que se nos afoita a cantar os chuvosos deuses do assombro…