O mês vai célere, às vezes seco, outras vezes chuvoso, porém quente, muito quente. E, atento, vejo os primeiros gafanhotos e espero não vaticinem as sete pragas e outros quinhentos. À noite, quando a energia eléctrica dá o berro, já nem tenho forças para injuriar gente, pois importa resguardar a outra energia mental (e a paz de espírito) da resignação e da sabedoria. A silenciosa força de amar. Não voto, nem veto. Leio mais um livro de Manoel de Barros e sei que tu também estás atinada aos pormenores das formigas e abelhas, como estou eu dos primeiros gafanhotos ou estaria um menino do triste cão en passant. E, se madruga em breu, de par em par abro as janelas na afoiteza que o mundo tem lua e estrela, e, de pensamento, o existir se reluz em tal encanto. Quem sabe não sejamos deste lugar, nem deste tempo. Ou somo-lo, posto estarem em pauta os nossos respirares…
Dia Nacional da Cultura
Antes de mais nada, gostaria de chamar a atenção dos leitores para o momento importante que vivemos (efeméride dos 500 anos da Descoberta e do 35º aniversário da Independência), e gostaria de render uma homenagem ao patrono do Dia da Cultura, o poeta, o prosador, o jornalista e o polemista, cidadão Eugénio Tavares. Todos nós somos devedores da sua grandeza espiritual e do seu legado transcendental. Igualmente, dizer que os próximos tempos exigem, em termos de políticas públicas, o reformatar dos mecanismos de financiamento à Cultura, porque os modelos actuais já são ineficientes e inadequados à dinâmica da realidade. Neste últimos anos, podemos dizer que temos bons exemplos deste dinamismo, como as Bandeiras do Fogo, o Carnaval do Mindelo, as Tabancas de Santiago, os Festivais de Música, o Kreol Jazz, o Mindelact, os Raiz de Polon, Cidade Velha e o Campo de Concentração do Tarrafal, para além dos campos performativos entre vários outros, que nos apontam caminhos para a necessidade de um reposicionamento das políticas públicas da Cultura em Cabo Verde. À luz dos novos dados, há que produzir novos marcos que vão da lei de direito autoral até a de renúncia fiscal, passando pela recriação de fundos autónomos da Cultura, para que nossas ofertas culturais e sua cadeia produtiva venham conquistar lugares ao sol neste novo ambiente de fruição cultural que já nos marca.
Tempo, tempo, tempo, tempo (2)
Momento grande e não se pode ficar indiferente a isso. Um mundo melhor sendo possível. Acerca das eleições brasileiras, Chico Buarque diria: «Venho aqui reiterar o meu apoio entusiasmado à campanha da Dilma. A forma de governar de Lula é diferente. Ele não fala fino com Washington, nem fala grosso com Bolívia ou Paraguay. Por isso, é ouvido e respeitado no mundo todo. Nunca houve na História do País algo assim». Emocionante momento: um índio torna-se presidente da Bolívia e um negro torna-se presidente dos Estados Unidos da América. Já antes Harvey Milk, assumidamente gay (e empunhando assaz bandeira), ganhara eleições na Califórnia. Apetece chorar de emoção ver Nelson Mandela, em serena idade, a lançar mais um livro e os mineiros chilenos, do claustrofóbico cativeiro, a serem resgatados. E o Brasil, meu Deus, depois de um operário (que resolveu aos brasileiros as suas necessidades mais básicas de comer, morar, trabalhar, estudar, ter luz e saúde), ser agora uma mulher a próxima presidente. Momento grande…
Momento Tao
A igreja é de pedra. Ou de Pedro. Respeito-a já só por isso, mas o templo vivo de Deus é o homem. A outra Luz. Tão cheia de Graça…