sexta-feira, novembro 19, 2010

Exercício de contraste

Naturalmente que todos temos as nossas escolhas. Temo-las por razões diversas. Às vezes, por convergências ideológicas, outras vezes por pragmatismo. Isso, sem falar dos interesses, já que a política perspectiva interesses (de grupos e de indivíduos) no espaço e no tempo. Mas quase sempre precisamos de mensagens claras para ajuizar e gizar. Para que nos reflitamos no espelho, é preciso que este não seja embaciado. A face clara das coisas, de que somos ao fim e ao cabo.

Cabo Verde vive um momento pré-eleitoral pautado por uma enorme inflação de mensagens políticas, umas perdendo eficácia comunicativa e outras não ganhando inteligibilidade, aos olhos dos destinatários. Por se tratarem de umas eleições marcadas pela bi-polaridade partidária e pela comparação do perfil de dois partidos em disputa, os discursos para a opinião pública deveriam ser, a nosso ver, mais claros e assertivos, sublinhando contrastivamente não só as suas respectivas características ideológicas, mas, sobretudo, as suas obras enquanto partidos que já governaram o País.

A par dos partidos, não seria incoerente também o contraste entre os dois líderes. José Maria Neves, actual Primeiro-Ministro, e Carlos Veiga, Primeiro-Ministro nos anos noventa, que tiveram o raro privilégio de servir, aos 41 anos, como chefes de executivo de Cabo Verde, no quadro constitucional da democracia multipartidária e, nesta condição, beneficiar, ambos, de dois mandatos, podendo, nas prerrogativas legais que lhes foi facultado pelo regime, mostrar as suas capacidades de liderança, de patriotismo, de gerir o bem-comum e de gerar prosperidade para o país.

Como sairíamos mais a ganhar, porque mais esclarecidos, se a pré-campanha assumisse um diapasão diferente, numa linha de mensagens (que fosse dos outdoors aos tempos de antena televisivos e radiofónicos, passando pelos discursos nos eventos partidários) com dados, os mais objetivos, respeitantes ao cenário dos resultados ao fim de cada um dos mandatos. Ou seja, os diferentes sectores comparados em 2000, fim dos mandatos de Carlos Veiga, e em 2010, fim dos mandatos de José Maria Neves.

Os tempos são diferentes. Alguém há de querer comparar tempos dispersos e distantes. São razões válidas e aceitáveis. Ninguém detém verdades. Tão pouco detém a Verdade. Ao exercício de contraste...pois, com certeza.